Funk paulista' vira moda no YouTube com carros, motos e notas de 100

14/08/2012 17:33

 

"Funk paulista" vira moda no YouTube com carros, motos e notas de 100

 

Um em cada dez clipes mais vistos por brasileiros no site é do estilo.
G1 contabiliza preços de artigos de luxo citados nos hinos da ostentação.

 

Rodrigo OrtegaDo G1, em São Paulo

Funk (Foto: G1)

A batida não é diferente do funk carioca queesquenta bailes há 40 anos. Mas o sotaque, as letras e imagens são paulistas. Em vez de ousadias sexuais, os temas são artigos de preços altos: carros, motos, óculos, roupas, bebidas, etc.

Na parada dos cem vídeos musicais mais vistos no YouTube no Brasil, atualizada a cada dia, estão presentes nas últimas semanas pelo menos dez produções de funk de São Paulo, cujos versos parecem leituras de catálogos de lojas de luxo. Nos clipes, tem até dança na boquinha da garrafa de uísque 18 anos. É o retrato da ascensão do funk paulista.

"A parada do YouTube está dividida entre pop, sertanejo e funk. Sertanejo está há um tempo, agora o funk vem com tudo. De São Paulo", ressalta Finson Gallar.  Ele administra redes sociais de uma agência paulista de funk. Antes, trabalhava com rock - NX Zero, Fresno e Restart foram clientes. "A garotada quer algo novo. MC Guimê tem 1,7 milhão de views por semana. MC Danado tem 500 mil", conta o diretor artístico.

G1 selecionou faixas de funkeiros de São Paulo e de artistas de outros estados - que já incorporam a influência paulista das letras de ostentação -, e calculou quanto dinheiro seria necessário para comprar os produtos citados nas letras. As cinco músicas, lançadas em 2012, figuram no ranking de vídeos musicais mais vistos no YouTube no Brasil, graças a versos como "Vida é ter um hyundai e uma hornet / 10 mil pra gastar com rolex e juliet / Melhores kits, vários investimentos / Ai como é bom, ser o top do momento".

 

MC Danado

 

 

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Danado (Foto: G1)

 

"Quando faço uma letra, me inspiro no que vejo e vivo. Todo mundo gosta de ter um carro bacana. Eu tenho dois. Em uma balada, hoje, é importante o traje que você usa, estar com um relógio legal", diz o paulista MC Danado, que é produtor de eventos. Ele tem outros investimentos, como cita na letra de "Top do momento" (veja clipe). O clipe tem quase 8 milhões de visualizações. O sucesso no YouTube é fundamental para estourar: estes artistas raramente gravam discos. Quando o fazem, mais distribuem do que vendem. O negócio é (literalmente) lançar CDs ao público. "Jogo 50 ou 60 discos por show", diz Danado.

 

MC Backdi e BioG3

 

Backdi (Foto: G1)

 

 

O diretor de "É classe A" (veja clipe), de MC Backdi e BioG3, é Konrad Dantas, o Kondzilla, nascido no Guarujá (SP). Ele diz que não precisa alugar objetos de valor para filmar. "Quem não é desse mundo acha que funkeiros são um bando de favelados. O pessoal não sabe como o funk gera dinheiro. Tem músico girando mais de R$ 150 mil por mês", diz Konrad. Ele planeja um documentário sobre o funk de ostentação. "Quando as letras de São Paulo falavam mais de crimes, o baile não enchia, havia confusão. Hoje, com a ostentação como tema principal, atingiu a mulherada. As pessoas querem ver o que gostariam de ter", explica.

 

MC Guimê

 

Guime (Foto: G1)

 

 

 

Aos 19 anos, MC Guimê é o maior sucesso atual do gênero. Ele começou a cantar em 2009, com Rodolfinho, outro funkeiro paulista em ascensão. "A ostentação não foi criada por nós, já existia com artistas do Rio e outros lugares. Mas nós adotamos e deu certo." O cantor de Osasco (SP) conseguiu 11 milhões de acessos no YouTube com "Tá patrão". Já soma quatro milhões com "Plaque de 100" (veja clipe). Guimê quer gravar um disco com novos parceiros como Emicida, e cantar outros temas além de posses materiais. "Só não trabalho com funk proibido, porque quero entrar em qualquer lugar." Sobre os carros e produtos dos vídeos, diz que reúne entre os seus e os de parceiros.

 

MC Pocahontas

 

Pocahontas (Foto: G1)

 

 

 

 

Viviane Queiroz tem 17 anos e cursa o 1º ano do Ensino Médio em Duque de Caxias (RJ). A MC Pocahontas, legítima "novinha" na cena do Rio, canta letras sensuais. Mas teve maior sucesso com atitude improvável no funk carioca: seguir uma tendência de São Paulo. Ela chamou o paulista Kondzilla para gravar o clipe de "Mulher do poder" (veja clipe) - "é pelo YouTube que os contratantes nos conhecem", ela justifica. "Aqui no Rio, o funk é mais da 'ousadia'. Mais duplo sentido, pouca letra e mais dança. Mas o que está batendo agora é ostentação. Por isso fiz 'Mulher do poder'. É a realidade. Que mulher não gosta de andar arrumada, gastar muito?", pergunta. Kondzilla ajuda a explicar o novo protagonismo paulista: "Apesar de o Rio ser o berço do funk no Brasil, o dinheiro está em São Paulo".

 

MC Buru

 

 
 
 
 
 
Buru (Foto: G1)

 

                                                                 

 

 

 

 

    

 

 

 

 

 

 

A inspiração é clara. "Olha como é que nós tá" (veja clipe), do MC Buru, de Belo Horizonte, tem refrão idêntico a "Tá patrão", de Guimê, e cita o nome do paulista. O clipe também é semelhante, com direito à dança na boquinha da garrafa de uísque 18 anos. Guimê aprova a apropriação. "Teve gente que criticou. Mas eu não vi maldade. A intenção foi comentar a música, dizer que curtiu. Acho legal ver MCs de fora, do Rio, de BH, de qualquer lugar, falando desse tema." Guimê, que já fez show para 12 mil pessoas em São Paulo, conseguiu público recente de 6 mil em Florianópolis. "O funk de São Paulo está com força espetacular, nem a gente esperava. A procura dos contratantes pelos MCs paulistas é enorme", comemora Guimê

Fonte : G1.com