Musical homenageia o funk carioca

06/08/2012 20:53

O musical ‘Funk Brasil — 40 anos de baile’, primeira montagem teatral a abordar o gênero, estreia neste sábado




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RIO - A ideia não é levar o funk ao teatro, mas transformar o teatro num baile funk. Assim que o público entrar na Arena Dicró, no sábado e no domingo, às 19h, e no Teatro Miguel Falabella, a partir de quinta-feira, o baile já vai estar comendo solto, numa trilha que vai de pedradas clássicas da década de 1970 até os anos 2000. O tamborzão começa a bater com James Brown, atravessa Funkadelic, Afrika Bambaataa, Stevie B, Trinere e aporta nos raps dos primeiros MCs cariocas, como “Rap do pirão” e “Feira de Acari”, até que o mestre de cerimônias interrompe a festa e anuncia o início do musical “Funk Brasil — 40 anos de baile”. A partir daí os graves sobem, o palco treme e a história do gênero é repassada, na primeira montagem teatral a abordar o funk.

— Aquele rap (“Som de preto”) do Gorila e Preto sintetiza tudo: “É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado” — canta o ator Pedro Monteiro, idealizador do musical. — Outro dia, no ensaio, olhei para o lado e o cara da fiação estava dançando com o ombro e a cabeça. A ideia partiu da vontade de entender melhor o que é isso que faz todo mundo balançar.

Ao narrar os altos e baixos da afirmação do gênero, a montagem, além de fazer dançar, tenta ainda romper com estigmas que assombram o gênero.

— Há um desejo de quebrar os preconceitos que ainda existem em relação ao funk — diz o ator. — Hoje em dia, se você for na festa de casamento de uma madame, vai tocar funk, assim como os artistas de ponta da música têm se aproximado. Então a ideia é pegar essa batida, esse som carioca, e fazê-lo entrar pela porta da frente do teatro. E na Zona Norte, que foi onde ele vingou.

Baseado no livro “Batidão — Uma história do funk”, escrito pelo jornalista Silvio Essinger, do GLOBO, a peça tem dramaturgia coassinada por Pedro Monteiro e pelo produtor João Bernardo Caldeira. Com direção de Joana Lebreiro, a montagem coloca seis atores em cena, que se revezam em personagens e que disparam petardos funkeiros que marcam uma trajetória cuja origem remonta aos Bailes da Pesada, organizados pelo DJ Big Boy no Canecão, na década de 1970.

Com o fim do baile, determinado pela chegada de um novo show de Roberto Carlos, Big Boy e sua turma miraram o subúrbio. A ideia deu certo: os bailes black se tornaram uma febre na Zona Norte e se espalharam com a chegada de equipes como a Soul Grand Prix. É a partir da evolução desse contexto que surgem nomes como DJ Marlboro, Rômulo Costa, Mister Funky Santos, Furacão 2000, D’Eddy e Grandmaster Raphael, assim como os primeiros hits, (“Melô da mulher feia”) e as lendas, como a do DJ Marlboro, que, sem dinheiro, caminhava mais de 30km até chegar ao baile mais perto de sua casa, o “batizado” de Claudinho e Buchecha nos estúdios do mesmo Marlboro, que os obrigoua ficar de cuecas durante a gravação do “Rap do Salgueiro”, Latino cantando em inglês no início da carreira e Rômulo Costa oferecendo seu fusca como garantia à equipe de som de seus primeiros bailes.

— A peça é “uma história”, e não a versão definitiva. É uma homenagem, e também uma brincadeira — diz Pedro.

Apesar do tom festivo, o espetáculo não se desvia da apologia ao crime nos raps proibidões e nem dos bailes de corredor, marcados por brigas violentas entre galeras rivais. É o único ponto em que o baile para, reflete, mas acaba encontrando no próprio funk a resposta: “O funk não é modismo/ É uma necessidade É pra calar os gemidos que existem nessa cidade”, diz o “Rap do Silva”. Recado dado, o DJ dispara, o funk explode e o bonde segue.

— E em alta até hoje — diz Pedro





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